Estudo – A Amizade, Segundo Cícero – Parte 3

CiceroBust[1]

Se você ainda não leu as partes anteriores, clique nos links abaixo:

Estudo – A Amizade, Segundo Cícero – Parte 1

Estudo – A Amizade, Segundo Cícero – Parte 2

COMO MENSURAR A AMIZADE

Primeiro critério: O CARÁTER

“Conhece-se o amigo certo nas ocasiões incertas”.

Antes de iniciarmos a amizade, é prudente investigarmos a moral da pessoa, pois se ela for fraca, na primeira oportunidade vem a traição.

Após esse passo, é necessário controlar o nosso impulso quanto ao afeto. É muito comum, diante de certas situações, que as  pessoas sacrifiquem a amizade, e aí virá  a sua decepção.

À saber:

  • Para obter dinheiro (muito ou pouco, depende da pessoa);
  • Para obter honra, prestígio, poder, cargos;
  • Para fugir da SUA desgraça: “Como é penoso e difícil para a maioria, partilhar das desgraças do amigo!”

… a leviandade e a fraqueza conduzem a maioria, seja para o desprezo quando na prosperidade, seja para o abandono quando na desgraça.

Portanto, quem, ante essas duas contingências, mostra-se sério, constante, estável na amizade, a tal indivíduo havemos de ver como integrado numa raça de gente rara em extremo, quase divina”.

Como podem ver, para Cícero é muito difícil encontrar uma pessoa de tal quilate, pois vai contra a natureza humana pensar no outro acima de si mesmo.

O que devemos fazer é mensurar até que grau nosso amigo pode ir fiel na amizade diante de tais “tentações ao egoísmo”, e lidar com isso.

Segundo critério: A LEALDADE

“O fundamento da estabilidade e da constância que procuramos, na amizade, está na fidelidade. Pois o que é desleal não é estável”.

O amigo não deve fingir ou simular, tem que ser sempre sincero. Mesmo quando discorda com veemência, sua opinião deve ser exposta. Nunca esconder seus sentimentos.

Defender o amigo contra acusações injustas e não sentir nem suspeitas de que o fato qual ele é acusado possa ser verdadeiro se ele diz que é falso.

CRITÉRIOS PARA NOVAS AMIZADES

 “Nesta altura, desponta uma questão bem difícil: dever-se-ia ou não dar preferência aos amigos recentes, dignos de nossa amizade, antepondo-os aos mais antigos tal como é nosso costume preferir cavalos novos aos velhos?

Eis um questionamento indigno do ser humano!”

Não devemos deixar em segundo plano os antigos amigos para privilegiar os novos. Por mais promissores e interessantes que sejam os novos e mesmo que os antigos já façam parte de uma incômoda rotina e mesmice.

Os antigos já passaram por muitas coisas ao seu lado e já provaram seu valor.

A AMIZADE NIVELA OS PARCEIROS

“Na amizade, um dos aspectos mais relevantes é que o maior iguala-se ao menor.”

Entre amigos de níveis diferentes, por exemplo: dois amigos na adolescência, os dois crescem mas apenas um torna-se bem sucedido em seja lá o que for (profissão, prestígio, amores, etc), esse não deve alterar sua postura e tratamento para o amigo menos privilegiado pois isso demonstra arrogância e o amigo sente-se desprezado.

Ao contrário, o amigo deve demonstrar a importância do outro e sempre colocar-se no mesmo nível.

Outra medida típica da amizade, inclusive entre parentes, é que o que pode, deve ajudar o que não pode a elevar-se. Oferecer condições para isso. Nunca abrindo mão da virtude, evidentemente.

Mas isso não deve ser feito de qualquer forma ou em qualquer circunstância. Deve-se oferecer aquilo que se possa dar e depois, o que o amigo está apto a receber.

Ou seja, não adianta eu abrir mão da minha condição para que o amigo a tenha e nem proporcionar coisas para o amigo, nas quais ele não tenha aptidão ou interesse. O que não posso é abandoná-lo ou colocar-me acima dele.

 

RAZÕES PARA ROMPER AMIZADES

“Muitas vezes, irrompem vícios entre amigos, seja em relação a eles mesmos, seja em relação a terceiros, mas que, sempre, redundam em infâmia. Devemos, então, relaxar os vínculos de amizade até que a separação ocorra”.

Não é tão incomum que amigos, motivados pelas razões citadas acima, no tópico Como Mensurar Amizades, acabem gerando conflitos entre si.

Divergências sérias, mudanças de hábitos decorrentes das experiências pessoais ou outros motivos já abordados nesse estudo, podem justificar o rompimento da amizade. Mas esse rompimento não deve ser abrupto para não correr o risco de criar uma grande inimizade, deve ser gradual, porque “nada mais vergonhoso do que entrar em conflito com quem se conviveu familiarmente”.

A única exceção, que exige o rompimento imediato, é que a situação seja tão insuportável que seja injusto e até desonesto manter a amizade.

De qualquer modo, é de bom tom que se conserve a imagem do ex-amigo e não aproveite a situação para difamá-lo perante terceiros.

“A única garantia contra tais desgraças e inconveniências é a de não, apressadamente, principiar a querer bem e muito menos a pessoas indignas”.

 

Fim da terceira parte. Na próxima, abordarei a essência da amizade.

‘té mais!

0 Responses

BlogBlogs.Com.Br